terça-feira, 8 de setembro de 2015

Relato encontro GETEM 07 setembro 2015

Relato do encontro do GETEM

Ocorreu no dia 07/09, dia em que se comemora a independência do Brasil, mais um encontro de estudo, reflexão e discussão  do GETEM.

O objeto de estudo foi o texto de Dermeval Saviani, denominado "O neoprodutivismo e suas variantes: neoescolanivismo, neoconstrutivismo e o neotecnicismo (1991-2001)".

Optamos desta vez pela apresentação por um dos participantes do plano geral do texto. Dessa forma, foi possível discutir de forma sistemática o texto, seguindo esse plano geral.
Foi possível, também, entender que as ideias hegemônicas hoje na educação são aquelas determinadas pela reestruturação do mundo trabalho, cujo cerne desta reestruturação encontra-se na necessidade do capital de elevar suas taxas de lucro.

O neoprodutivismo  e suas variantes, então, se revelam nas ideias e práticas do capital para ajustar a educação a essas atuais necessidades.

Discutimos o processo de reestruturação do trabalho, a mudança da base taylorista-fordista para o toyotismo e suas consequentes influências nos processos educacionais.

O fim do Estado de Bem Estar Social e o avanço do neoliberalismo no mundo capitalista alterou a forma da organização política, social e educacional, fez avançar a relação individualista e a competição desenfreada entre as pessoas e, com a derrocada do pleno emprego, gerou uma horda de excluídos vinculados ao conceito de "empregabilidade".

Assim, ganhou força o conceito de "competência" e a necessidade da escola formar trabalhadores aptos a atuar num "mercado" que exige dos sujeitos bases flexíveis para atuação em diferentes áreas.

A desregulamentação dos mercados e o conceito do Estado Mínimo (neoliberal) gerou mais desemprego, exploração e instabilidade para a classe trabalhadora e fez modificar os conceitos do escolanovismo, construtivismo e tecnicismo.

O debate foi enriquecido com a participação de Jackson Souto, Lauro Xavier, Marcelo Tomaz, Nunes Dantas e Sandra Dias.

Os encaminhamentos:

- Planejar e organizar uma atividade alusiva ao dia do professor, 15 de outubro;

- Organizar momentos de formação continuada para serem desenvolvidas nas escolas públicas (iniciar com a discussão sobre a Educação Infantil e os anos iniciais do Ensino Fundamental a partir da perspectiva da Pedagogia Histórico-Crítica;

- Elaboração de uma cartilha do GETEM;

- Elaboração e divulgação, de forma permanente,  do boletim informativo;

- Definição do próximo encontro: dia 26/09, com a discussão ainda das  demandas do capitalismo para educação hoje e o movimento de resistência.

Para esse próximo encontro foram definidos os seguintes textos Roberto Leher:

1- Um novo senhor da educação? A política educacional do Banco Mundial para a periferia do capitalismo;

2- Organização, estratégia política e o Plano Nacional de Educação.
E o vídeo: Roberto Leher sobre a internacionalização da educação.

Para acessar os textos e vídeo:

http://boletimef.org/biblioteca/185/Leher-Artigo

https://youtu.be/iEp_QE0d3iE

http://marxismo21.org/marxismo-e-educacao-2/r-leher-estrategia-politica-e-plano-nacional-educacao/

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Ata resumo - Debate 22 de agosto 2015 - Livro Escola e Democracia



Aconteceu no dia 22/08 o encontro de retomada das atividades teórico-práticas do GETEM, no salão de reunião do edifício de um dos integrantes do grupo, o Jackson Souto.  Além dele, estiveram presentes Yuri Costa, Sandra Dias, Wladimir Nunes, Magno, Marcelo e Sandra Melo. 

Nortearam as discussões do grupo o texto clássico de Dermeval Saviani, Escola e Democracia, conforme anunciado no convite aos coletivos e profissionais de educação das redes de ensino.
O objetivo do encontro, de discutir, numa perspectiva de classe, a complexa rede de relações entre educação,  sociedade capitalista e escola, foi em boa medida cumprido. 

Em tom provocativo ora ao texto, ora suas relações com realidade de hoje, o grupo avançou no estudo, levantando a curiosidade epistemológica de conhecer mais profundamente por onde passa hoje o fenômeno da marginalização. Em 1983, primeira publicação do livro, a maioria das crianças e jovens das classes populares estavam fora da escola, além da metade da população na América Latina se encontrava na condição de analfabeta ou semianalfabeta. Essa problemática,  de natureza política, impulsionou os estudos de Saviani na criação de uma resposta teórico-prática, que foi a pedagogia revolucionária, hoje denominada Pedagogia histórico-crítica, com fundamentação marxista;

Além da compreensão do fenômeno da marginalização nos dias de hoje, outra questão levantada foi como compreender o desenvolvimento da consciência crítica, partindo do suposto da valorização dos conteúdos, do saber objetivo, defesa essa da pedagogia histórico-crítica. O caminho do abstrato ao concreto, proposto no âmbito da pedagogia revolucionária pode ser pensado como um caminho único para encaminhar o processo de aprendizagem dos conteúdos escolares? Essa foi outra questão levantada.
Foi indicado para ampliar e aprofundar os estudos sobre a pedagogia histórico-crítica dois textos: 

1- Dossiê "pedagogia histórico-crítica: a defesa do ensino e direcionamento para a educação escolar", de Ana Carolina Galvão Marsiglia e Lígia Márcia Martins. Editorial da revista Germinal: Marxismo e Educação em dabete, Salvador, v. 7, n. 1, p.1-7, jun. 2015;
2- La ensenanza problemica. M.I. Majmotov. Editorial Pueblo Y Educación. 1975.
O encontro encerrou com os seguintes encaminhamentos:
1- data para o próximo encontro, dia 07/09;
2- estudo do capítulo xiv, do livro de Saviani, História das  ideais pedagógicas,  que aborda o neoconstrutivismo, o neotecnicismo e o neoprodutivismo. Essa sugestão já estava colocada quando do chamamento de retomada das atividades do GETEM, por considerarmos que esse capítulo traz para os dias de hoje as discussões postas em escola e democracia, no que diz respeito às teorias hegemônicas hoje no campo educacional.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

terça-feira, 26 de maio de 2015

DOSSIÊ SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE JOÃO PESSOA (2015-2025)



COLETIVOS DE TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE
JOÃO PESSOA/PB

(OBSERVATÓRIO PARAIBANO DE EDUCAÇÃO/GETEM/EDUCADORES EM LUTA)
















DOSSIÊ SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE JOÃO PESSOA (2015-2025)





















JOÃO PESSOA/Pb
Maio/2015






COLETIVOS DE TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE
JOÃO PESSOA

(OBSERVATÓRIO PARAIBANO DE EDUCAÇÃO/GETEM/EDUCADORES EM LUTA)














DOSSIÊ SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE JOÃO PESSOA/PB (2015-2025)








Dossiê elaborado pelo coletivo de trabalhadores da educação do município de João Pessoa e entregue ao Ministério Público Estadual com a finalidade de tornar público as indagações, inquietações e preocupações destes coletivos frente ao processo de construção do Plano Municipal de Educação (2015-2025) 












JOÃO PESSOA/Pb
Maio/2015



Apresentação



Uma premissa indispensável de trabalho é o fato de que o PME tem de ter legitimidade para ter sucesso. Planos construídos em gabinetes ou por consultores alheios à realidade municipal tendem ao fracasso, mas um PME submetido ao amplo debate incorpora a riqueza das diferentes visões e vivências que a sociedade tem sobre a realidade que deseja alterar. Somente um Plano Municipal de Educação legítimo pode contar com o apoio de todos para monitorar seus resultados e impulsionar a sua concretização, através da mobilização da sociedade ao longo dos seus dez anos de vigência. (MINISTÉRIO DE EDUCAÇÃO - MEC. O PME - Caderno de Orientações, 2014)



Dossiê sobre o processo de construção do Plano Municipal de Educação (PME) de João Pessoa/PB (2015-2025) foi elaborado pelo coletivo de trabalhadores da educação deste município – Observatório Paraibano de Educação/GETEM/Educadores em Luta – no período de Abril a Maio de 2015. A finalidade é a de expor à sociedade civil preocupações, indagações e inquietações frente ao processo de construção do PME que não é um plano da Rede de Ensino Municipal, mas um plano de educação do município - integrado ao Plano Estadual e ao Plano Nacional de Educação precisa estar vinculado mais ainda à realidade e às necessidades reais e objetivas da população local. O PME visa projetar ações educativas para um período de dez anos, o que significa ser um plano de estado e não de um governo, por isso deve ser construído a partir das indagações e contribuições de toda a comunidade escolar e da sociedade civil a partir das diferentes visões, opiniões e conflitos sobre a realidade educacional. Diante da sua importância para o desenvolvimento da formação humana, porque é disto que trata a educação, apresentamos esse dossiê que se encontra constituído de duas partes. A primeira de narrativas de trabalhadores da educação sobre o processo de construção do PME, em particular do que se convencionou chamar de “audiência pública” para a aprovação do documento-base, ocorrida no dia treze de maio de 2015.  A segunda parte contém as análises preliminares do documento-base publicizado no dia onze de maio de 2015.  















































PARTE 1















NARRATIVAS SOBRE O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE JOÃO PESSOA/PB


























NARRATIVA 01


A construção do Plano Municipal de Educação: algumas indagações


Com a aprovação do segundo Plano Nacional de Educação (PNE), por meio da Lei N. 13.005, em 25 de junho de 2014, os estados e municípios têm até junho de 2015 o prazo para revisar seus atuais planos de educação em consonância com as diretrizes, metas e estratégias aprovadas no PNE, conforme o Art. 8° da referida Lei.
Além de determinar o prazo, no referido artigo se estabelece que o planos devem promover estratégias que assegurem  a  articulação  das  políticas educacionais  com  as  demais  políticas  sociais,  particularmente as culturais;  considerem  as  necessidades  específicas  das populações do campo e das comunidades indígenas e quilombolas, asseguradas a equidade educacional e a diversidade cultural; garantam  o  atendimento  das  necessidades específicas  na  educação  especial,  assegurado  o  sistema educacional  inclusivo  em  todos  os  níveis,  etapas  e modalidades; promovam  a  articulação  interfederativa  na implementação das políticas educacionais.
Quanto ao processo de construção e/ou adequação dos planos, no parágrafo 2º do artigo 8º, determina-se a ampla participação de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil.
Como se encontra esse processo de construção no município de João Pessoa? Existe algum cronograma de atividades? Foi formada alguma comissão de sistematização? Já foi elaborado o documento-base que objetiva orientar o debate público? Como vem ocorrendo o processo de participação da comunidade educacional e da sociedade civil? Existem relatórios desta participação? Onde podemos encontrar o documento-base e relatórios? Estão disponíveis nos sítios eletrônicos da Secretaria de Educação Municipal e do Conselho Municipal de Educação? Para a revisão do plano vigente, que estudos avaliativos foram feitos para se dimensionar em quanto às estratégias e metas programadas foram alcançadas, ou seja, foram produzidos os diagnósticos necessários para se vislumbrar perspectivas futuras? Se a orientação do Ministério da Educação é o de alinhamento dos Planos Municipais e Estaduais ao Plano Nacional de Educação, existe margem para autonomia? Se sim, autonomia de que natureza?
Essas questões vêm dominando nossas conversas no interior dos grupos GETEM e Educadores em Luta. Por sinal, no evento, organizado de maneira autônoma, “Educação Pública em debate”, ocorrido no dia 30/04, a professora Laurineide Laureano, convidada para abordar o tema do Plano Municipal de Educação (PME), teceu mais comentários sobre a construção do plano em vigência, embora vencido desde 2012, do que do plano que precisa estar pronto até junho do corrente ano. E porque será que sua fala teve esse tom?
Numa busca assistemática para responder a algumas das questões anteriormente levantada e para compreender o tom da palestrante, fomos até a web vasculhar a existência de algum indício sobre a construção do nosso PME.  
No sítio da Secretaria Municipal de Educação, até onde pude observar, não encontrei disponível um cronograma de atividades sobre o processo de construção do plano, nem um documento-base que pudesse estar norteando o debate público, pois é em cima de um documento concreto se pode construir novas sínteses. Menos ainda relatórios, atas, sobre consultas públicas e sugestões da comunidade escolar e organizações civis. 
Encontrei sim algumas matérias jornalísticas. Por exemplo, no portal “De Olho nos Planos”, existe uma matéria que tem como título “Após aprovação do PNE, escolas de João Pessoa (PB) estudam documento para revisão de Plano Municipal” ( http://www.deolhonosplanos.org.br/apos-aprovacao-do-pne-escolas-de-joao-pessoa-pb-estudam-documento-para-revisao-de-plano-municipal/). Nesta matéria, postada no dia 10 de outubro de 2014, predomina o discurso da professora Telma Lúcia de Souza, Coordenadora do Fórum Municipal de Educação de João Pessoa, entidade responsável pela dinâmica de construção do PME. Em um dado momento do seu discurso, ela afirma que para facilitar a construção do novo PME foi disponibilizado no sitio da Secretaria de Educação o PNE e o antigo PME. Por sinal, na própria matéria encontramos um link que nos dá acesso a esse antigo PME. Pois bem, ávidos para conhecer esse antigo plano e poder de alguma forma analisar as antigas metas e o que de fato se fez ao longo dos dez anos de sua vigência, encontrei apenas a minuta da lei de aprovação do PME, mas não o plano. Na verdade o documento está postado no Portal da Transparência da PMJP e sem fazer constar, até 20 de maio de 2015, o Documento Base do PME 2015.
Ela diz mais, nessa entrevista, “que o trabalho de revisão do Plano Municipal foi intensificado a partir das etapas municipais da Conferência Nacional de Educação (CONAE), realizadas em 2013” e que “Atualmente, a partir da aprovação do PNE estão sendo retomadas as discussões em relação ao diagnóstico educacional da cidade”. Essas discussões, segundo a matéria, são fruto de atividades realizada em escolas para “fomentar a participação e levantar demandas para a garantia do direito à educação na cidade”. A orientação dada para as discussões é a de se analisar as 20 metas do PNE e compará-las com as estratégias e metas apontadas no antigo PME para se verificar que se alcançou e o se tem para melhorar.
Não conseguimos, de fato, encontrar registro memorístico desta atividade tão intensa. Pode até ser que algumas escolas tenham realizado o debate, mas nas escolas em que os coletivos atuam não existe registro. Mas fica a questão: será que foram escolhidas algumas escolas para participar desta tão importante atividade? que critérios foram adotados?
Faço crer, a essa altura do processo, que a fase de elaboração do diagnóstico tenha sida concluída, ficando a pergunta: onde podemos encontrar os relatórios produzidos a partir destas discussões? 
Seguimos adiante nesta busca por respostas. Ainda nessa matéria, foi dito que na Semana de Ação Mundial (SAM), realizada entre os dias 21 e 27 de setembro, se aproveitou para discutir o tema da educação inclusiva, em que representantes do Conselho e representantes da Campanha Nacional pelo Direito à Educação oportunizaram a reflexão sobre o planejamento desta educação a partir do aumento de matrículas, na garantia da Educação de Jovens e Adultos (EJA) e nas metas do PNE.
As pessoas que participaram desta atividade tinham conhecimento do Plano Municipal anterior e das metas do PNE? Elas sabiam antecipadamente que nessa atividade iria se discutir metas e estratégias futuras? Não sei, isso parece tudo muito surreal.
Tive oportunidade de no dia 20 de fevereiro de 2015 participar de um seminário organizado pela Secretaria de Educação para se discutir a educação infantil e o Plano Municipal de Educação. O evento ocorreu nos turnos manhã e tarde, no auditório da Estação Cabo Branco. Em nenhum momento se apresentou um diagnóstico profundo e realístico sobre a situação da educação infantil no município e não foram discutidas as proposições de estratégias e metas para os próximos dez anos. Pela manhã, tivemos uma exposição da proposta pedagógica da SEDEC para esse nível de ensino, momento em que se apresentou dados organizados pela própria SEDEC sobre a situação da educação infantil na rede de ensino, e à tarde uma discussão das estretégias e metas do PNE/2014 para esse mesmo nível.
Elencar esse evento como discussão de construção do novo PME nos parece um tanto quanto equivocado. Participamos deste “debate” sem leitura prévia de um documento-base, que contivesse diagnóstico e proposições e gerando uma apatia dos participantes, discussões rasas e pouco produtivas. Até porque a dinâmica adotada no evento não foi participartiva e dialógica, não se formou grupos de discussão, não se teve questões norteadoras, enfim, não houve participação.
Sobre o tal diagnóstico da educação municipal, a notícia é que o mesmo já se encontra concluido, conforme informação presente na página do mec (http://pne.mec.gov.br/). Nessa página, que trata da situação dos planos de educação, aa clicarmos na situação de João Pessoa, vamos encontrar essa informação e, pelo que entendemos o documento-base não, pois se estivesse a condição apareceria na cor amarela. 
 O prazo para a aprovação pela Câmara de Vereadores do PME se aproxima e nada de muito concreto encontramos. Tendemos a concluir que essa construção é uma incógnita. Ao que parece, a ampla participação de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil na construção do PME não vem acontecendo a contento, além do que é um processo pouco transparente, pois não se tem registros publicizados sobre ele, apenas matérias jornalísticas recheadas de retórica.
Por fim, mas não menos importante, no que diz respeito ao alinhamento dos planos municipais ao PNE, conforme orientação do MEC. A questão é que o novo PNE, conforme estudos do professor Roberto Leher (http://marxismo21.org/wp-content/uploads/2014/08/R-Leher-Estrat%C3%A9gia-Pol%C3%ADtica-e-Plano-Nacional-Educa%C3%A7%C3%A3o.pdf), traz como marca fundante sua vinculação aos interesses do capital financeiro. Para o referido professor, no Art.5°, §4 da referida Lei, abre-se brecha para “contabilizar como se fosse público os gastos com as corporações internacionais, os bancos e os fundos de investimentos que vendem educação técnica e superior no Brasil e no exterior (Ciência Sem Fronteiras), assim como os gastos com bolsas para o setor privado, as isenções tributárias e toda sorte de parcerias público-privadas, o novo léxico da privatização em curso”. Ele conclui que com o novo PNE está aberto o caminho para a transformação da educação pública em negócio, em que por meio do financiamento público as escolas passam a ser administradas e dirigidas pedagogicamente por grupos econômicos (Evangelista e Lever, 2012). Os planos municipais de educação tem autonomia para seguir outra lógica?

Referência:

EVANGELISTA, O.; LEHER, R. Todos pela Educação e o episódio Costin no MEC: a pedagogia do capital em ação  na  política  educacional  brasileira.  Revista  Trabalho  necessário,  n.15/  2012,  disponível  em: 22http://www.uff.br/trabalhonecessario/images/TN1519%20Artigo%20Roberto%20Leher%20e%20Olinda%20Evangelista.pdf).







NARRATIVA 02


Relatório breve de como foi a audiência pública para aprovação do PME em 13 de maio de 2015



 1 DA FORMA Ao chegarmos na EMEF Aruanda, às 8h, só aí tomamos conhecimento do cronograma: pela manhã, credenciamento, palestra com profa. Adriana Valeria S. Diniz (UFPB) e grupos de trabalho; pausa para almoço; à tarde, votação das propostas dos GTs. Graças a essa surpresa, algumas pessoas não voltaram à tarde.

No credenciamento, deram-nos uma cópia do documento-base do Plano Municipal de Educação (PME); ouvimos a palestra; e, sem outra opção, começamos o trabalho nos GT’s, que era dividido em seis salas temáticas: 1. Ed. Infantil, 2. Fundamental e médio, 3. superior, 4. EJA, 5. ed. Profissional técnica, 6. formação e valorização dos profissionais da educação básica, gestão democrática e financiamento da educação. Pedimos à coordenadora do Forum Municipal de Educação (FME), Telma L. S. Felix, espaço para debater globalmente o documento. Não deixaram.

Quem organizou o evento pôs em prática a tática divide et impera. À tarde, já com bastante atraso, por volta das 16h30, reuniram-se os GTs no plenário, houve só um breve relato do trabalho em cada GT e sequer foram apresentadas as modificações na redação do documento: alegaram que era desnecessário, uma vez que nos GTs tudo foi “consensual”. O GT 6 não foi assim. 2 DO GT “FORMAÇÃO E VALORIZAÇÃO DOS PROFISSIONAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA, GESTÃO DEMOCRÁTICA E FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO” E SEU RESULTADO

Neste GT, sob coordenação de Gilberto C. Araujo, presidente do Conselho Municipal de Educação (CME) e membro da diretoria da CNTE, lá estava presente a diretoria do nosso sindicato. Discutimos quatro metas (oriundas do PNE, a 15, a 16, a 17 e a 18) e 31 estratégias de como alcançá-las. Cada linha era lida, discutida e votada, com ou sem alterações, mas houve uma série de dificuldades. Fomos almoçar às 13h, voltamos às 14 e trabalhamos nesse GT até 16h30, pouco mais ou menos, mas não conseguimos concluir a leitura, discussão, eventuais alterações e votação das duas últimas metas (19 e 20) e suas estratégias.

Em primeiro lugar, era difícil entender o documento: por vezes, a coordenação do GT tinha de nos explicar o que estava escrito, que em muitos casos, paradoxalmente, não estava escrito.

Parece que a redação do texto foi açodada, sem o devido cuidado da clareza que todo texto jurídico deve ter e, o pior, não houve uma revisão do texto, de modo que várias frases continham erros de sintaxe, repetição de palavras e imprecisão na redação. Em segundo lugar, outra dificuldade foi o entendimento por parte da coordenação, e até mesmo da diretoria do nosso sindicato, do que seja um PME. Em certo momento, não queriam deixar que nós modificássemos as metas (“a gente só mexe nas estratégias”, diziam).

Isto resulta de um outro defeito do documento. Como o texto foi mal escrito na forma, também foi mal escrito no conteúdo, faltando informações importantes do diagnóstico da realidade local, como, por exemplo, quantos professores no município têm pós-graduação lato ou stricto senso?

Ocorre que a meta 16, por exemplo, é formar 50% dos professores da educação básica em nível lato e strito senso e, ora!, sem saber em que ponto estamos, não há como saber para onde vamos. A professora palestrante pela manhã já havia afirmado isso: se uma meta nacional do PNE já é realidade no município, então o município deve estipular uma meta mais elevada, para seguir caminhando. Daqui tiramos um conclusão válida para o trabalho de todos os GTs e de todo o processo de redação desse PME: a comissão que o redigiu não teve o cuidado de fazer nem um diagnóstico profundo da situação local vinculada a cada meta, e o mesmo se repete em outras partes do documento, faltando informações importantíssimas, como uma avaliação do PME anterior (2002-2012).

 Ao chegarmos à meta 19, acabou-se a reunião do GT. Não só porque estávamos atrasados para a plenária, mas também porque duas senhoras indignadas, a quem havia cabido a redação preliminar dessa parte relativa à “democracia na escola”, denunciaram que as estratégias que elas escreveram não estavam contidas na versão atual do documento.

Daqui se conclui que a redação preliminar do documento, apresentada nessa audiência pública, foi feita também segundo o modelo autocrático do divide et impera, redigido por grupos separados, que ao final justapuseram suas partes com muita cola e pouca costura, dando um aspecto frankensteiniano ao documento.

Resultado: o sr. Gilberto chamou nova reunião, no Cecapro Beira-rio, sexta, 15/05, às 8h, para terminarmos as metas 19 e 20 (que é sobre financiamento da educação). Ele não quis estranhos lá; nós defendemos na plenária que outras pessoas interessadas têm o direito de participar dessa continuidade. Não houve acordo.

Não pude anotar as alterações propostas, porque a dinâmica desse GT não permitia: havia muita pressa. Houve uma discussão muito tensa e tenho sérias dúvidas se houve consenso. Não houve. As alterações na redação que propusemos foram justapostas ao documento, mas não temos garantia nenhuma se constarão ou não na redação final. Não houve sequer redação de uma ata.

3 DA AVALIAÇÃO Essa dita “audiência pública” foi a ratificação do trabalho de uma autocracia, que, às pressas, na segunda feira, dia 11 de maio 05, no sítio da prefeitura, publicou a atividade com o nome de “encontro”, sem discussão direta com as comunidades escolares. O processo democrático de constituição desse PME é questionável, porque meramente formal, pois que restrita ao CME e ao FME, que têm representantes da sociedade civil, mas não a sociedade civil diretamente participativa. O documento está mal redigido e com lacunas semelhantes às de um queijo suíço. Este documento regerá a educação em todos níveis, pública e particular, de João Pessoa pelos próximos 10 anos."

































NARRATIVA 3


Mais uma vez nossa voz foi silenciada e, pasmem, numa "audiência pública".


Estivemos hoje no que a prefeitura intitulou "audiência pública" sobre o PME. Como todos, fomos pegos de surpresa com o anúncio no sítio da PMJP anunciando o evento na segunda-feira e colocando à disposição, de maneira tardia, um compilado frágil e mal elaborado que eles ousaram chamar de documento-base do PME. Na verdade um texto escrito de maneira atabalhoada, sem nexos e cheio de erros crassos (inclusive repleto de problemas com a norma culta).

Para esta "audiência" foram convocados gestores e especialistas ligados à gestão municipal e quase nenhuma representatividade da sociedade civil. Muitas ausências se deram graças ao tempo exíguo entre o anúncio e a realização do debate - as escolas municipais deveriam indicar, pasmem, uma única pessoa.

O que eles chamaram de documento-base é um texto grotesco, por vezes risível e prejudicial à educação do município. Por isso, é preciso rever o Documento Base, realizar de fato uma audiência pública e garantir que a comunidade escolar e a sociedade civil participem da construção do PME.























PARTE 2












ANÁLISES PRELIMINARES DO DOCUMENTO-BASE DO PLANO MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DO MUNICÍPIO DE JOÃO PESSOA (2015-2025)



























ANÁLISE 01




O "documento-base" do Plano Municipal de Educação (2015-2025) está repleto de erros crassos (gramaticais inclusive), tabelas e gráficos elaborados de toda forma, sem seguir as normas da ABNT ou qualquer outra orientação que possa uniformizar os dados. Além disso, citações sem constar nas referências e leis citadas fora dos padrões.

O "documento-base" não traz a avaliação do PME anterior, não faz uma análise de conjuntura (internacional, estadual e municipal) e a apresenta dados que nada contribuirão com o Plano, como por exemplo as questões climáticas do município (bem como a citação da presença de "shoppings centers" ou restaurantes de qualidade na orla).

Falta uma método de análise, o que confunde o leitor, torna a apresentação dos dados fora de contexto e assim, o texto não consegue avançar na exposição das ideias.

Em alguns itens como a educação superior, faltam dados sobre a cidade o que torna o documento um conjunto vazio de proposições. A parte sobre financiamento parece ter sido escrita com pouco cuidado e de maneira atabalhoada, como o conjunto do documento que carece de uma revisão.

Leis citadas de maneira equivocada, como o artigo 44 da LDB e trechos risíveis são encontradas ao longo do documento, para não falar da parte histórica que dá um salto de 1587 a 1930 em poucas linhas (totalmente descontextualizadas). O texto referente ao eixo sobre Direitos Humanos foi copiado diretamente do Plano Estadual de Educação sem nenhuma referência.

Infelizmente o texto deve ser aprovado na dita "audiência pública" e encaminhado para a Câmara de Vereadores após as devidas "correções". Alguns setores da imprensa irão estampar a participação da sociedade civil na construção do documento e assim a capital paraibana (ainda) não vai cumprir seus ideais.

Acerca desta “audiência pública”, a matéria no portal da PMJP afirma: “A Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP), por meio da Secretaria de Educação e Cultura (Sedec), vai realizar nesta quarta-feira (13), na Escola Municipal Aruanda, no bairro dos Bancários, às 8h, um encontro com os gestores e membros de escolas públicas e privadas, membros da Sedec, Câmara Municipal de João Pessoa, Ministério Público da Paraíba e a sociedade civil para discutir o documento base do Plano Municipal de Educação (PME) 2015/2025. (http://www.joaopessoa.pb.gov.br/forum-discute-a-elaboracao-do-plano-municipal-de-educacao-da-capital/)”. Ao chegarmos a esse “encontro” recebemos um papel timbrado com a “Programação” de uma “Audiência Pública”, com o objetivo de: “Debater e aprovar as metas e estratégias propostas para o Documento-Base do PME/JP”. Ao contrário do anunciado oficialmente, o encontro, na verdade era uma “Audiência Pública”, ferindo o princípio da publicidade.
Desta maneira a sociedade civil foi aviltada do direito de participação na construção do PME, pois não teve acesso à informação sobre a “audiência” e os convites entregues pela PMJP às escolas estabeleciam que os estabelecimentos de ensino devessem indicar apenas uma pessoa para o evento, restringindo à participação e desmobilizando os trabalhadores em educação (professores, especialistas, merendeiras, vigilantes, pessoal de apoio, etc) pais e mães de alunos – e o mais grave a obstrução da participação efetiva de crianças e jovens que em nenhum momento foram chamados para a participação coletivo do PME.
Fica patente que a PMJP descumpriu o artigo 8º do PNE (LEI Nº 13.005, DE 25 DE JUNHO DE 2014.), no seu parágrafo 2º, que afirma:

§ 2o  Os processos de elaboração e adequação dos planos de educação dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de que trata o caput deste artigo, serão realizados com ampla participação de representantes da comunidade educacional e da sociedade civil.

Segundo orientações do Ministério da Educação (2014, p. 07) “O trabalho a ser feito envolve levantamento de dados e informações, estudos, análises, consultas públicas, decisões e acordos políticos, e nada disso acontece rapidamente.” Ao que parece, de maneira atabalhoada, a PMJP preferiu não seguir as orientações do MEC e optar por esvaziar as decisões e acordos políticos (pelo menos com a sociedade civil) e as consultas públicas. E o documento do MEC (2014, p. 11) assevera:

Documento-Base é a proposta preliminar do Plano Municipal de Educação e será o principal instrumento e referência para o debate público, que deve ser o mais amplo e participativo possível. A partir do Documento-Base aprovado pela Comissão Coordenadora, a sociedade construirá os consensos e acordos necessários sobre os desafios educacionais prioritários e as formas de enfrentá-los ao longo da década de vigência do Plano.
O primeiro rascunho desse documento pode ser elaborado pela Equipe Técnica para ser submetido à validação da Comissão Coordenadora, que organizará o debate amplo e definitivo com a sociedade. É desejável que o Documento-Base já seja elaborado com forma e conteúdo do futuro plano para facilitar sua posterior transformação em Projeto de Lei pelo Executivo (MEC. O PME: Cadernos de Orientações, 2014, p. 11, grifos nossos).

Além disso, na reunião do dia 13 de maio, documentos importantes não estavam à disposição da plenária ou mesmo foram citados pelo Documento-Base, com o PME anterior, bem como o Plano Plurianual (PPA), Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), Lei Orçamentária Anual (LOA) e o Plano de Ações Articuladas (PAR).

O MEC (2014, p:11) sugere ainda a:

“utilização dos meios de comunicação (rádios locais, TV, jornais, cartazes, faixas, outdoors, serviço de som móvel, etc.); envolvimento da sociedade civil (associações comunitárias, organizações religiosas, desportivas e culturais; organizações não governamentais; organizações de classe, como sindicatos, organização estudantil, associações de pais, etc.), da sociedade política (casas legislativas e demais secretarias de governo), das instituições formadoras (instituições de ensino superior, institutos de pesquisa, entre outros); mobilização e aproveitamento do potencial humano e do material artístico-cultural existente no município e, se possível, na região para apresentação de peças teatrais, confecção de músicas, cartazes, enquetes, etc.; estratégias de estudos e debates sobre o andamento de construção do Plano: reuniões, seminários, encontros, audiências públicas, fóruns, etc. A organização de uma Conferência Municipal com etapas escolares, por bairros ou regiões do município, sem dúvida pode qualificar as contribuições ao Documento-Base.”

            Infelizmente, um documento tão importante para a educação no município foi tratado de forma vil e esperamos que as autoridades competentes tomem as devidas providências, sob o risco da educação no município de João Pessoa/PB sofrer restrições e rebaixamento dos seus índices de qualidade em todas as esferas e níveis de ensino.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

BRASIL. Plano Nacional de Educação. Lei 13.005 de 25 de junho de 2014. Disponível  em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2014/Lei/L13005.htm.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. O Plano Municipal de Educação – Caderno de Orientações. Brasília, 2014.
ANÁLISE 2


A presente análise tem como objetivo subsidiar a reunião com a Promotora da Educação do MPF sobre o Plano Municipal de Educação, que se realizará no dia 18 de maio de 2015. Essa análise pretende demonstrar a existência de elementos que fundamenta a hipótese de que o documento-base e a audiência pública não passaram de simulacros de participação e democracia. A qualidade de preliminar que se adjetivou à análise deve-se ao pouco tempo que tivemos para um estudo mais detalhado do documento, uma vez que ele só foi publicizado no dia 11 de maio de 2015, antevéspera do que a Prefeitura Municipal de João Pessoa (PMJP) chamou de audiência pública de 13 de maio convocada pela SEDEC e Fórum Municipal de Educação.
A metodologia usada foi a observação e análise dos aspectos mais formais e lógicos de todos os itens constitutivos do documento. Na exposição do resultado privilegiou-se seguir a mesma ordem dos itens presentes no documento. 



Análise e Discussão dos resultados

1)    Sumário - não informa as páginas dos itens que compõem o documento;
2)    Apresentação:
2.1)    A trajetória de construção e elaboração do documento é descrita na apresentação de forma abreviada, faltando informações que julgamos importante. Não cita, por exemplo, nominalmente as entidades da sociedade civil que se fizeram presentes nos diversos momentos da sua mencionada construção coletiva; não se informa também quantos encontros foram realizados por níveis e modalidade de ensino e qual metodologia foi utilizada para se garantir os princípios da democracia, participação e transparência do processo, todos eles referendados por leis; além disso, não há uma só linha que explique os procedimentos teórico-metodológicos que a comissão de sistematização utilizou para a realização do diagnóstico da educação no município;
2.2)     As informações “(...) é com grande alegria que a Secretaria Municipal de Educação, em parceria com o Conselho Municipal de Educação e o Fórum Municipal de Educação apresenta o Plano Municipal de Educação – PME de – João Pessoa/PB, com vigência de 2015 a 2025” (p.4) e “Em 13 de maio de 2015, realizou-se a Audiência Pública, em que foi apresentado o Documento Base com as propostas oriundas dos respectivos segmentos. Na plenária, houve avaliação e votação de afirmação ou rejeição às propostas dos textos elaborados pelas subcomissões, bem como das propostas sugeridas no momento” (p.5) nos parecem um tanto quanto equivocadas no tempo e no espaço, revelando uma confusão conceitual entre documento-base e plano municipal de educação, esse já devidamente aprovado e sancionado. Quer dizer, o documento-base não se confunde com o Plano Municipal de Educação em si, uma vez que aquele passará por audiência pública, podendo sofrer alterações a depender da correlação de forças presentes no momento da audiência pública. Esse equívoco sugere, provavelmente, que a apresentação do plano já se encontra pronta independente do que pudesse vir a ocorrer na audiência púbica, marcada para o dia 13 de maio. Esse episódio causa estranheza quando os parágrafos anteriores faz referência a um processo democrático, dialógico e participativo na construção do mesmo. Conclui-se, então, que se relatou algo antes do seu acontecimento;
3)    João Pessoa: aspectos históricos, geográficos e socioeconômicos – esse item é anunciado no sumário como “Diagnóstico: Aspectos Históricos, Geográficos e Socioeconômicos de João Pessoa”, o que é mais um equívoco conceitual porque o seu conteúdo diz respeito a uma caracterização do município, e não um diagnóstico. Enquanto caracterização o que se apresenta são informações superficiais da realidade do município que nem de longe retrata a real situação da sua população. Indicadores sociais, econômicos e educacionais não são apresentados o que demonstra o caráter pouco ou nada científico da produção deste documento;
3.1)             Aspectos físicos – contém informações que só fazem sentido se conectadas aos interesses da construção do PME, da forma como são apresentadas causam confusão e um sentimento de preencher o Documento-Base com dados irrelevantes. Para o MEC (2014, p. 12) e importante realizar: “Um bom diagnóstico, com uma descrição geral do município, através de um cenário que ajude a compreender as razões pelas quais a educação se encontra de uma determinada maneira, será a base para as escolhas que serão feitas pela sociedade local na priorização de determinadas metas e na definição das formas de enfrentá-las. O diagnóstico deve contemplar os aspectos mais relevantes da oferta e qualidade da educação básica, em cada etapa e modalidade de ensino, e da educação superior.”
4)    Eixos temáticos – a partir deste item são apresentados os níveis de ensino e modalidades educacionais desenvolvidos no município, os quais são denominados de eixos temáticos, sem nenhuma explicação teórica.
4.1) A apresentação lógica desses eixos temáticos sofre variações as mais diversas, causando confusão para o leitor e a impressão de desorganização na montagem do documento. Por exemplo: para a educação infantil a lógica segue com os itens: introdução, diagnóstico, meta 1, estratégias, indicadores, monitoramento e avaliação; já no ensino fundamental, apresenta-se apenas diagnóstico, meta e estratégia; no ensino médio, objetivos e metas e estratégias; na educação especial, são apresentadas duas metas, que repete a numeração, sendo uma com estratégia e a outra não; na educação integral, diagnóstico, sem meta e estratégia; na educação de jovens e adultos, diagnóstico, meta, estratégias, indicador, monitoramento e avaliação; na educação profissional técnica de nível médio, meta e estratégia; na educação superior, meta e estratégias; na educação a distância, não há diagnóstico, meta ou estratégia; na formação e valorização dos profissionais da educação, não tem diagnóstico, apenas meta e estratégias; a gestão democrática, não tem diagnóstico, só meta e estratégia; o financiamento da educação, também, não tem diagnóstico, e sim meta e estratégia; na avaliação e acompanhamento da implementação do plano municipal de educação só se apresenta a meta sem estratégia. 
4.2) O que se apresentou no interior desses eixos temáticos não inspira confiança pela desorganização na apresentação do conteúdo, mas, sobretudo, pela pouca fidedignidade nos dados relativos ao diagnóstico, quando existente. Não se traz de forma clara, coerente e coesa dados quantitativos que expressem de forma aproximada a realidade educacional dos níveis de ensino. Por exemplo, na educação infantil não se apresenta o total da população infantil existente no município, quanto desta população foi atendida no ano passado, ou numa série histórica temporal, e quantas crianças ainda continuam sem atendimento educacional; quer dizer, não há uma avaliação da meta e das estratégias aprovadas no plano municipal anterior a esse que se elabora. Já no item Formação e valorização dos profissionais da educação, inexiste um diagnóstico, antecedendo a meta 16 de “Formar 50% dos professores da educação básica em nível de pós-graduação lato e stricto senso” (p.66), que indique quantos profissionais temos pós-graduados no município. Essa lacuna teórico-metodológica perpassa a maioria dos eixos temáticos, dando a impressão da pouca elaboração conceitual e analítica na organização de dados existentes e disponíveis nos relatórios governamentais;
4.3) Ainda sobre o conteúdo desses eixos, encontramos nas informações sobre o ensino médio (p.28) uma tabela que apresenta dados do censo escolar da educação básica de 2014, que, além de não se mencionar a fonte, não o contextualiza, pois é uma tabela que mostra índices de todos os níveis de ensino e não apenas do ensino médio, objeto do referido eixo temático. Na apresentação do eixo educação integral são apresentadas informações sobre o Mais Educação, um programa federal, como se esse programa já fosse o suficiente para caracterizar uma política de educação integral. Nas estratégias da meta 11 (p.51), relativas à expansão das matrículas na educação profissional técnica de nível médio, a repetição da expressão “deste PEE” sugerem um cópia do documento estadual. No que diz respeito ao item “Avaliação e acompanhamento da implementação do plano municipal de educação” não existe um diagnóstico dos mecanismos, instrumentos avaliativos e de monitoramento supostamente utilizados para acompanhar a implementação do plano municipal em vigência até a presente data;
4.4) Outro aspecto, de menor complexidade, mas que só revela o grau exacerbado de desorganização, diz respeito à enumeração das metas. Senão vejamos: o eixo Financiamento da educação, que se constitui do item 12, apresenta a meta 20; em seguida, o item 13, que se denomina eixo Valorização da diversidade, apresenta a meta 8, quando a meta 9 localiza-se no interior do eixo educação de jovens e adultos, que é o eixo 6.  É importante frisar que no eixo Financiamento não existem dados sobre a evolução do FUNDEB, muitos menos dados comparativos entre os valores previstos e consolidados, apesar de afirmar, sem apresentar fontes que “Como já aconteceu em anos anteriores, houve mudanças na estimativa anunciada”. Também não se discute o veto do Governo FHC ao investimento de 7% PIB (PNE 2001-2010), apesar de citado de maneira enviesada.
4.5) Qual o sentido de tamanha desorganização? Por que optaram por apresentar o diagnóstico da situação educacional dos níveis de ensino e modalidades educacionais simultaneamente à apresentação das metas e estratégias, gerando uma confusão na exposição das dados, informações e proposições? Por que se opta expor um determinado eixo temático seguindo uma lógica (introdução, diagnóstico, meta, estratégia, indicadores, monitoramento e avaliação) e para outro, muda-se sem um mínimo de explicação? Por que optaram por nem obedecer à lógica formal, que deve presidir a apresentação de documentos oficiais ou não? 
4.6) Além do mais, depois de um estudo, ainda que preliminar, fica um grande questionamento: por que no parco diagnóstico da situação educacional do município os dados do Programa Escola Nota Dez não são mencionados? Esse programa, para quem não sabe, foi instituído pela Lei N°11.607, em 23/12/2008, visando contribuir com a elevação do nível de aprendizagem dos alunos da rede municipal. Desde a sua implementação se aplicam anualmente nas escolas exames de proficiência nas diversas áreas do conhecimento para os dois níveis de ensino fundamental, o que nos leva a crer a existência de uma sistematização dos resultados e tomadas de decisões pedagógicas frente a eles. Mas nos causa estranheza perceber que na elaboração do diagnóstico educacional da rede pública municipal de ensino esses dados não são confrontados com os diagnósticos nacionais oriundos da Provinha Brasil, Avaliação Nacional de Alfabetização e Prova Brasil; Além disso, a PMJP “investiu” quase um milhão de reais na compra do pacote chamado “Mentes Inovadoras” do grupo MindLind e diz ter iniciado um projeto no ensino fundamental com tal “proposta” e sequer é citado no documento-base.
4.7) Outra ausência, diz respeito a um diagnóstico da quantidade e qualidade dos equipamentos e instalações existentes nas escolas do município. Quantas escolas tem biblioteca, laboratório de informática, laboratório de ciência, quadra esportiva, cozinha, refeitório, sala para atendimento especial, sala para os técnicos educacionais e direção; internet e banda larga, entre outras necessidades -  dados esses presentes no “Novo IDEB” e de fácil compilação;
4.8) Ausente mesmo no documento é um caráter científico, pois como se não fosse suficiente a descrição até aqui realizada, encontram-se menções a projetos educacionais desenvolvidos pela SEDEC sem um traço de objetividade, validade e fidedignidade na exposição da informação. À exemplo do “Projeto Apoio Pedagógico na Rede Municipal de Ensino” (p.20) que é mencionado como uma ação que supostamente contribuiu para uma elevação dos índices educacionais no ensino fundamental, mas no entanto, nenhum dado quantitativo e qualitativo é apresentado de forma a demonstrar e argumentar tal suposição, de forma a superar o simples achismo;  
5) Nos parágrafos conclusivos do documento-base, encontramos, mais uma vez, a confusão entre as etapas do processo de construção do plano municipal, como se o documento, apresentado como documento-base, já fosse o plano em si, como se a fase de discussão e aprovação em audiência pública estivesse transcorrida. Vejam essa redação: “O documento final do Plano Municipal de Educação de João Pessoa, mantendo o princípio da participação democrática, constituiu-se em um momento ímpar, no qual segmentos das esferas pública e privada, bem como a comunidade civil e organizada de João Pessoa, definiram os caminhos da educação do município para os próximos dez anos, após sua aprovação. Uma ação, cujo processo percorreu os seguintes passos: levantamento diagnóstico da situação educacional do município, análise dessa realidade e definição de metas e estratégias do PME com a sociedade, culminando com a consolidação do texto base sobre as políticas educacionais para o município” (p.88, grifo nosso).
6) Temos ausência de referências bibliográficas de citações realizadas no interior do texto que versou sobre a educação infantil, como a citação de “(GADOTTI, 2000)” na página 9; “(WSCOM; SECOM/JP, 2013)” e (Martins, ver página, 2014)” na página 10; além de não se referenciar as fontes oficiais das tabelas e gráficos utilizados, provavelmente oriundos de IBGE, INEP, entre outras.


REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. O Plano Municipal de Educação – Caderno de Orientações. Brasília, 2014.

PREFEITURA MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA. Plano Municipal de Educação de João Pessoa (2015-2025) – Documento-base. Secretaria de Educação/Conselho Municipal de Educação: Comissão de Acompanhamento e Avaliação do Plano Municipal de Educação. João Pessoa/PB, 2015.